quinta-feira, 8 de novembro de 2007

o ovulo errado


O Ovulo errado

Alguma vez você já se perguntou como conseguiu aparecer numa família tão estranha quanto a sua? Se você passou a vida se sentindo estrangeiro, como uma pessoa ligeiramente estranha ou diferente, se você é um ser solitário, que vive às margens da corrente dominante, você sem dúvida sofreu. No entanto, chega tambéma hora de remar para longe disso tudo, de experimentar um panorama diferente, de migrar de volta à terra da sua própria gente.

Que não haja mais sofrimento, que não haja mais tentativas de descobrir em que você errou. O mistério da razão pela qual você nasceu na família em que tenha nascido acabou, finis, está encerrado. Descanse por um instante na proa, refrescando-se no vento que vem da sua verdadeira terra natal.

Durante anos a fio, as mulheres que carregam em si a vida mística do arquétipo da Mulher Selvagem queixaram-se em silêncio: "Por que sou tão diferente?

Se eram filhas da natureza, eram mantidas entre quatro paredes. Se eram cientistas, diziam-lhes que deviam ser mães. Se queriam ser mães, diziam-lhes que, então, era melhor que se adaptassem perfeitamente ao papel. Se queriam inventar algo, diziam-lhes que fossem práticas. Se tinham vontade de criar, diziam-lhes que o serviço doméstico nunca termina.

Portanto, é claro que a resposta a "por que comigo, por que essa família, por que sou tão diferente", é que não há resposta para esse tipo de pergunta. Mesmo assim, o ego precisa ruminar alguma coisa antes de se soltar, e proponho três respostas de qualquer maneira. Pode escolher a que preferir, mas tem de escolher pelo menos uma. qualquer uma serve.

Prepare-se. Ei-las.

Nascemos do jeito que nascemos e nas estranhas famílias a que pertencemos l)

porque sim (quase ninguém acredita nessa), 2) o Self tem um planejamento, e nossos cérebros de ervilha são ínfimos demais para desvendá-lo (muitas consideram essa idéia atraente) ou 3) por causa da síndrome do zigoto errado (bem... é, pode ser...

mas o que é isso afinal?).

Sua família a considera uma alienígena. Você tem penas, eles têm escamas.

Sua idéia de diversão é a floresta, os ermos, a vida interior, a majestade da natureza. A idéia deles de diversão é dobrar toalhas direitinho. Se isso acontece com você na sua família, você está sendo vítima da síndrome do zigoto errado.

Sua família passa lentamente pelo tempo; você passa como o vento. Eles são barulhentos, você é delicada; ou eles são calados e você canta alto. Você sabe porque sabe. Eles querem prova e uma dissertação de trezentas páginas. Sem a menor dúvida, trata-se da síndrome do zigoto errado.

Nunca ouviu falar nisso? Bem, foi assim, a fada dos zigotos estava sobrevoando sua cidade natal numa noite, e todos os zigotinhos na sua cesta pulavam e saltavam de alegria.

Na verdade, você estava destinada a pais que a teriam compreendido, mas a fada dos zigotos entrou numa zona de turbulência e, epa, você caiu da cesta na casa errada. Você caiu de cabeça para baixo bem numa família que não lhe estava destinada. Sua "verdadeira" família ficava uns cinco quilômetros mais adiante.

É por isso que você se apaixonou por uma família que não era a sua, e que morava a uns cinco quilômetros dali. Você sempre quis que o sr. e sra. Fulano-de-Tal fossem seus pais de verdade. É possível que eles fossem mesmo.

É por isso que você sapateia pelos corredores apesar de ter uma família que vive grudada na televisão. É por isso que seus pais ficam alarmados cada vez que você vem visitá-los ou telefona. Eles estão preocupados "com o que ela vai aprontar agora?

Da última vez, ela nos deixou envergonhados, só Deus sabe o que vai fazer desta vez. Ai!" Eles cobrem os olhos quando você se aproxima, e não é por se ofuscarem com sua luz. Tudo o que você quer é amor. Tudo o que eles querem é paz.

E assim, antes mesmo que vocês se sentem à mesa, ela já está dançando por ali louca para deixar cair um fio de cabelo no ensopado da família.

Apesar de não ser sua intenção irritar a família, eles ficarão irritados do mesmo jeito. Quando você aparece, tudo e todos parecem enlouquecer. É um sinal inequívoco dos zigotos errados na família o fato de os pais se sentirem ofendidos o tempo todo enquanto os filhos têm a impressão de que nunca vão conseguir fazer nada certo.

A família não-selvagem tem apenas um desejo. Prepare-se, vou lhe contar o grande segredo. Eis a coisa misteriosa e tremenda que eles realmente querem de você.

Os não-selvagens querem coerência.

Querem que você seja hoje exatamente a mesma que foi ontem. Querem que você não mude com o passar dos dias, mas que permaneça como no início dos tempos.

A coerência nas atitudes é uma expressão impossível para a Mulher Selvagem, não revela coerência pela uniformidade mas, sim, pela vida criativa, pela percepção, pela rápida captação de imagens, pela flexibilidade e destreza coerentes. a arte, a dança ou a vida.

Dessa forma, o zigoto errado dá sua fidelidade, não à família, mas ao seu Self interior.

É por isso que ela se sente dividida. Sua mãe loba está segurando seu rabo; sua família concreta prendeu seus braços. Não demora muito, e ela está gritando de dor, rosnando e mordendo a si mesma e aos outros, para afinal ficar numa calma mortal. Quando se olha nos seus olhos, vêem-se ojos del cielo, olhos vazios, os de uma pessoa que não está mais ali.

Há mais uma questão a tratar. Os zigotos errados aprendem a sobreviver. É
difícil passar anos a fio na companhia de quem não pode nos ajudar a florescer. Ser
capaz de dizer que sobrevivemos é um feito. É então que se passa ao próximo estágio da sobrevivência, à cura e ao desenvolvimento futuro.
Vicejar é o nosso destino na terra. Vicejar, não apenas sobreviver, é o nosso direito
inato na qualidade de mulheres.

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