quinta-feira, 8 de novembro de 2007

a noite escura da alma 3




O som da queda de algumas das nossas muitas idéias se transforma numa espécie de proclamação de uma nova era ou de uma nova oportunidade.

Na realidade, a velha La Que Sabé está podando ligeiramente o lado masculino. Sabemos que o corte dos galhos secos ajuda a árvore a crescer com mais força. Sabemos também que a eliminação das flores de certas plantas faz com que
elas fiquem mais vigorosas, mais exuberantes. Para a mulher selvagem, o ciclo de desenvolvimento e redução do animus é natural. Trata-se de um processo arcaico, antiqüíssimo. Desde tempos imemoráveis, é assim que as mulheres abordam o mundo das idéias e suas manifestações objetivas. É assim que as mulheres agem. A velha no conto de fadas dos três cabelos de ouro nos ensina, na verdade volta a nos ensinar, como é que se faz.

Portanto, qual é o objetivo desse resgate e dessa concentração, desse chamado ao falcão para que volte, dessa corrida com os lobos? É procurar a jugular, chegar direto ao miolo e aos ossos de tudo que existe na sua vida, porque é ali que esta o seu prazer, é ali que está a sua alegria, é ali que está o Éden da mulher, aquele local onde há tempo e liberdade de ser, de perambular, de se maravilhar, de escrever, cantar e criar sem medo. Quando os lobos pressentem prazer ou perigo, a princípio eles ficam totalmente imóveis. Ficam parados como estátuas, em total concentração para poderem ver, ouvir, perceber o que exatamente está ali, perceber o que está ali na sua forma mais essencial.

É isso o que a Mulher Selvagem nos oferece: a capacidade de ver o que está diante de nós com a concentração de atenção, com a imobilidade para ver, ouvir, sentir com o tato, com o olfato, com o gosto. A concentração é o uso de todos os nossos sentidos, incluindo-se a intuição. É desse mundo que as mulheres vêm resgatar suas próprias vozes, seus próprios valores, sua imaginação, sua clarividência, suas histórias e suas antigas recordações. São esses os resultados do trabalho da concentração e da criação. Se você perdeu o rumo para se concentrar, sente-se e fique imóvel. Segure a idéia e a embale. Mantenha uma parte dela, jogue outra parte fora, e ela se renovará. Não é preciso fazer mais nada.

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